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(Texto escrito a convite e publicado parcialmente no livro MBA Executivo do Professor Antonio Pires de Carvalho Edição 2008, Editora Saraiva, página 330.)

Compreendendo que as especificações técnicas e a distinção entre cada montadora só podem ser avaliadas satisfatoriamente pelos profissionais tecnicamente habilitados, retenho-me a análise enquanto consumidora e cidadã.

Gostaria sim, de poder abordar a questão do respeito ou não das montadoras de veículos e demais empresas com relação ao aquecimento global, pois existem empresas poluidoras que têm consciência de suas ações, como algumas montadoras de carros ou siderúrgicas, mas as suas atividades são forçosamente agressivas ao meio ambiente, tanto na produção quanto no produto final e mesmo assim, muitas delas detêm-se a desenvolver projetos paliativos em suas ações.

Como este tema, aquecimento global está migrando para as políticas públicas dos países emergentes e hegemônicos, seria prudente aqui, enfatizar as análises exaustivas que são feitas por entidades protetoras e defensoras do meio ambiente, como por exemplo, as Organizações Não Governamentais – ONG’s.

A mídia veiculada nos grandes meios de comunicação, timidamente, está ampliando os seus espaços dedicados as questões ambientais, porém os veículos de comunicação menos impactantes na opinião pública é que tratam a questão ambiental com maior profundidade. A grande imprensa informativa, não trata com a mesma seriedade e comprometimento a questão do meio ambiente e do aquecimento global. E a imprensa especializada, seletiva e analítica, que trata desses temas, acaba tendo espaço reduzidíssimo nos países como o Brasil. Os programas especializados voltados para essas questões são, no entanto, televisionados somente nas madrugadas, e as revistas são voltadas somente para os assinantes e profissionais interessados, ou seja, um número reduzido de público frente as principais mídias formadoras de opinião.

É imperativo que se tenha mais espaço para a imprensa ambiental, falada e escrita, um jornalismo voltado para a biodiversidade, legislação, política ambiental, mudanças climáticas, responsabilidade social e cidadania.

Seria prudente que a questão ambiental estivesse inserida em todo e qualquer projeto de desenvolvimento de um país, pois muitas vezes, por exemplo, a ocupação realizada de forma predatória gera impactos produzidos pelo desmatamento inconsequente e insensível ocasionado pelo ser humano.

A mudança climática, até pouco tempo, era um tema muito distante da realidade do dia-a-dia das pessoas, porém, a responsabilidade ambiental tende a intensificar uma nova consciência na população em relação a forma equivocada que existia em gerações passadas sobre “o pensar” o meio ambiente, essa nova tendência imposta por uma nova perspectiva corrobora para minimizar os problemas gerados pela cadeia poluente.

O Brasil não dispõe de um mercado consumidor de informação ambiental: “o olhar” para o meio ambiente deveria nos impregnar sempre! Mas como diz Maria Christina de Andrade Vieira em seu livro Cotidiano e Ética – Crônicas da Vida Empresarial, “O cotidiano massacrante ou meramente metódico inibe, forçando o abandono das proposições”.

O desencadeamento de uma renovação de valores e de mentalidade num mundo totalmente transformado mostra uma palpitante necessidade de reflexão e discussão de temas como a mudança climática e os impactos produzidos por ela.

Temos que ter consciência e desejo de mudança! Será possível nos permitir desafios tão diversos?
Empresários abrem negócios geralmente porque dominam o processo de produção, seríamos nós também capazes de entender e dominar as mudanças climáticas?

Infelizmente os valores do nosso ensino não sinalizam para uma consistente alteração da concepção ecológica e nem para o gerenciamento ambiental que deveria ser condizente com os princípios do desenvolvimento sustentável, pois existe uma escassez crescente dos recursos naturais. Basta verificar na área de resíduos sólidos, a efemeridade e inópia do discurso dos “três erres”: Reutilizar, Reciclar e Reduzir, com destaque para a hilária fábula do último termo, que vai exponencialmente contra o derradeiro modelo vigente de desenvolvimento econômico.

Uma máxima da ética diz que: “devemos ser guiados por princípios e valores nobres”. O alto comprometimento com o meio ambiente e com a comunidade, com forte consciência social, não seria um desses valores? A banalização corrói ainda mais uma sociedade que já convive há muito tempo com uma crise de valores.

Por que não questionamos os modelos preestabelecidos e impostos pela ignorância ambiental que nós mesmos cultivamos? Temos que nos interessar não só pela vida econômica, política e social do país, mas também, e, principalmente pela questão ambiental, porque ela envolve todas as outras áreas e contribui para a necessária e urgente quebra de paradigmas. Devemos conceber a realidade de forma mais abrangente e universal, ampliando a dimensão de um só, do modelo particularizado e cartesiano. O universo intelectual hoje, que envolve os saberes científico, filosófico, social e econômico, e que busca origens e parâmetros para dar soluções as questões ambientais, encontra dificuldades no atual modelo para dar respostas convincentes e adequadas quando o assunto é aquecimento global.

Os governantes com seus comprometimentos unilaterais e suas audácias e afrontas, se aproveitam da mídia escrita e falada para propagar a autopromoção político-partidária e corporativa, ao invés de se envolverem concretamente em projetos e decisões que realmente façam a diferença para a sociedade. E à população falta cultura e postura para cobrar uma posição coerente dos nossos dirigentes.

Esperamos que os projetos de desenvolvimento ambiental que tratem inclusive dos recursos renováveis, não se acabem em processos arquivados ou abandonados em gavetas por falta de provas ou inconsistências jurídicas, pois qualquer desculpa é útil, quando há um desvirtuamento das responsabilidades.

Poderíamos considerar então que o animal é mais “inteligente” que o próprio homem, pois nós perdemos a compreensão do mundo em que vivemos, tornando-nos alheios a nossa consciência (alienados), e o animal permanece mergulhado (integrado) na natureza, e o homem que era capaz de transformá-la, no entanto, optou por destruí-la.

Poderíamos nos basear em pesquisas como a da UNICAMP, em que são feitos estudos sobre veículos automotivos que evitam gases poluentes, para termos um parâmetro básico sobre regras de conduta e valores que norteiam a construção da vida social.

Atualmente os veículos automotores são produzidos com preocupações que passam por exigências e normatizações legais, a exemplo da série ISO 14000, mas não há evidências de uma discussão e investigação junto ao público consumidor. A análise do ciclo da vida é parte integrante do conjunto de Normas da ISO 14000 e da ISO 14040, que apresentam diretrizes para orientar estudos de avaliação ambiental.

Que o público masculino prefira carros com motores mais potentes e mecanismos de estabilidade, o mercado já sabe e explora de forma veemente tais atributos em seus novos produtos nas campanhas publicitárias. Design e dispositivos de segurança são amplamente divulgados e explorados na comercialização dos veículos; não obstante, os atributos ambientalmente corretos que poderiam perfeitamente ser alvo do público feminino, que é um público comprovadamente mais responsável com a preservação da vida, não são objeto das campanhas publicitárias, a exemplo: a economia de combustível, redução de poluição sonora e atmosférica, segurança, e por fim, a destinação final de sua matéria prima sendo passível de reciclagem.

De acordo com Leonardo Boff em seu livro Ecologia: Grito da Terra, Grito dos Pobres, a mulher “não se deixa reger apenas pela razão mas integra mais holisticamente também a intuição, o coração, a emoção e o universo arquetípico do inconsciente pessoal, coletivo e cósmico”…“Por natureza, ela está ligada diretamente ao que há de mais complexo do universo, que é a vida.” (Boff, p. 52 e 53)

Resta aqui uma interrogação. Seria uma falha de marketing não explorar a expectativa feminina no mercado automotivo? Supondo que a população não tenha interesse em consumir um produto ecologicamente correto? Não existe cultura para se consumir esse tipo de produto? Ou por outro lado, e essa é a nossa tese, divulgar uma campanha que explicitasse uma produção ecologicamente correta poderia suscitar um efeito contrário: o efeito de levar a público a consciência ou a informação de que a indústria automobilística é uma das mais agressivas ao meio ambiente.

Se for verdadeira a nossa tese, parece-nos um equívoco do mercado, pois nenhum consumidor final pode abrir mão da qualidade ou da necessidade de locomover-se no mundo moderno. Uma vez relatada a gravidade do processo de produção de um carro, obrigar-se-á o consumidor a assumir a corresponsabilidade pelo processo adotado na produção e poluição gerada pelo uso de seu veículo. A campanha publicitária que incorporasse as implicações ecológicas e o conjunto de soluções já aplicadas na produção de um veículo poderia estar contribuindo desta forma para a consciência e a educação ambiental da população.

Ou seja, existe um mercado em potencial para ampliar as vendas nas montadoras, cujo público é na sua maioria feminino e ávido por um produto ecologicamente correto, outrossim, por hipocrisia do capital, este potencial não é explorado.

Trata-se de uma mentalidade incorporada, principalmente pela cultura ocidental, que valoriza desproporcionalmente a aquisição de bens em uma perspectiva individualista frente a uma frágil consciência coletiva e ambiental. Um exemplo é o fato de termos em carros, espaços reservados para latinhas de refrigerante, cinzeiros, porta malas mais espaçosos, sistemas antifurto, localização por satélite, e não encontramos neles um simples dispositivo para destinação do “nosso lixo”.

Talvez a fusão entre um marketeiro inteligente e criativo e uma montadora com visão ambiental, vendam um volume maior do produto que já é consumido.

A mulher moderna é uma consumidora em potencial dos produtos que já são ecologicamente corretos. Essa mulher consciente que sabe escolher desde um detergente de louça biodegradável até um simples inseticida, que não agrida seus filhos, e ainda sabe escolher um óleo de cozinha de uma indústria que não faz uso de produtos transgênicos, certamente essa mesma mulher, exigente, consciente e ambientalmente correta, irá preferir um carro que apresente condições de respeito ao meio ambiente e as futuras gerações.

Citando ainda Leonardo Boff, compreendemos que “mais do que pelo trabalho é pelo cuidado que a mulher se relaciona com a vida. O cuidado pressupõe uma ética do respeito, atitude básica exigida diante do sagrado”. (Boff, p. 52)

Acredita-se que estamos trabalhando apenas com a “euforia ambiental”… já que é moda, então vamos aproveitar… É como uma marca de griffe famosa, ninguém tem dinheiro, mas todo mundo quer comprar.
Sabemos que não somos a solução dos males que afligem o mundo, mas não podemos deixar ruir as estruturas que asseguram e equilibram as leis da vida, e nem deixar que as pedras da consciência rolem atropeladas pelo poder da natureza.

Mas assim mesmo, com toda violação e desrespeito à Mãe Terra, o Sol, astro rei, continuará majestoso e aberto à natureza, mesmo que futuramente não venhamos a encontrar “nenhum lugar onde se possa ouvir o desabrochar de folhas na primavera ou o bater de asas de um inseto”. (Carta do Chefe Indígena Seattle. In, Dias, Genebaldo Freire. Educação Ambiental: princípios e práticas. p. 518), ainda assim àqueles que acreditam na vida, e almejam um futuro diferente e salutar, comum a todos os seres que habitam o planeta, deve-se imperar a resistência, legando às futuras gerações o ensinamento do já citado Chefe Indígena Seattle no ano de 1854, que diz: “Tudo que acontecer a terra acontecerá também aos filhos da terra. Se os homens cospem no solo, estão cuspindo em si mesmos” (Carta do Chefe Indígena Seattle. In, Dias, Genebaldo Freire. Educação Ambiental: princípios e práticas. p. 516).

Angelita Lombarde Divino
Na época: Secretária Executiva – Núcleo de Concursos – Pró-Reitoria de Graduação – UFPR
Especialista em Planejamento e Gerenciamento Estratégico – Adm de Pessoas e Processo Pedagógico do Ensino Superior.

Referências
Boff, Leonardo. Ecologia: Grito da Terra, Grito dos Pobres. São Paulo: Editora Ática S.A, 1995.
Dias, Genebaldo Freire. Educação Ambiental: princípios e práticas. 9. ed. São Paulo: Gaia, 2004.
Vieira, Maria Christina Andrade. Cotidiano e ética: crônicas da vida empresarial. São Paulo: Editora SENAC, 2001.

►Texto publicado em:

Carvalho, Pires Antonio. MBA Executivo. São Paulo: Editora Saraiva 2008, pág. 330. (Texto publicado parcialmente – https://www.amazon.com.br/MBA-EXECUTIVO-ANTONIO-PIRES-CARVALHO-ebook/dp/B07XJ83DLD )
Associação de Professores e Servidores Públicos do Magistério Oficial do Estado de São Paulo – APROESP (https://aproesp.com.br/)

Por todas as nossas relações!

Aho, Namastê, Soham, Amém!

Angelita Lombarde Divino ॐEscritora e Poetisa – Instrutora de Yoga e Terapeuta
Idealizadora e Mentora em Vivências do Movimento Sagrado Compartilhar
Guardiã do Método RARA – Receber, Acolher, REconhecer e Agradecer
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REFERÊNCIAS
Inspiração nas minhas experiências como aprendiz aqui na terra; nos meus alunos e consultantes; nas meditações e orações; nos meus professores internos e externos; na conexão com o sagrado que habita em mim, na vida, no universo, na terra, na natureza, em Deus!