Mario Celso Petraglia, presidente do Athletico
Mario Celso Petraglia em entrevista coletiva (Crédito: Valquir Aureliano)

Essa coluna não vai trata de ser meramente elogiosa, mas apenas, fazer várias constatações históricas. Nunca fui um fã número um de Mario Celso Petraglia. Em seus mais de 25 anos à frente do Athletico, Petraglia personificou a máxima maquiavélica de que “é melhor ser temido do que ser amado, se você não pode ser ambos”. Seu estilo de gestão nos últimos 25 anos desafiou convenções e dividiu opiniões. Porém, inegavelmente, exerceu um domínio eficaz frente ao Furacão.

Ao assumir um clube em completa desgraça em 1995, Petraglia tirou o Athletico de coadjuvante no futebol paranaense e o ergueu juntamente com a Arena da Baixada, que em apenas quatro anos, virou de um acanhado estádio no Água Verde, na mais moderna praça esportiva da América Latina. Com o estádio, veio o CT do Caju em meio a polêmicas acusações por conta do uso do terreno na região onde foi construído.

A reforma para a Copa de 2014 é o seu segundo ato de transformação, presenteando a Arena da Baixada com um moderno teto retrátil e um gramado sintético. O acordo fechado neste ano e favorável ao Athletico, para que o clube não pagasse os juros da reforma do estádio para a Fomento Paraná, coroou a posição unânime do dirigente em meio a quase dez anos de disputa. No fim das contas, a agora Ligga Arena, saiu mais barata que outros estádios reformados ou criados para Copa.

Dentro das quatro linhas, o título Brasileiro em 2001 e o vice da Libertadores em 2005 são os feitos iniciais do mito “petraglista”. As conquistas recentes nas Sul-Americanas de 2018 e 2021, e na Copa do Brasil de 2019 consolidaram de vez seus métodos e modelo de gerenciamento, baseado em contínua modernização, contudo, de forma ultracentralizadora.

Sob sua batuta, o Athletico superou o rival Coritiba, inovou na gestão financeira fazendo com que o clube virasse uma das organizações mais bem geridas do Brasil, e por fim, desafiou a poderosa Rede Globo nos direitos de transmissão, pavimentando o caminho para transmissões próprias e a ”era do streaming”. Petraglia ousou mexer nesse ninho de vespas abrindo caminho para a Lei do Mandante aprovada em 2021.

No início desta, que deve ser a sua última gestão à frente do clube, viaja ainda nesta semana para os EUA, a fim de avaliar uma proposta de 40% pela SAF do Athletico. A quantia oferecida é de 3 bilhões de reais, que pode ser um recorde para o futebol brasileiro.

Petraglia personifica uma astúcia maquiavélica na busca pela manutenção de seu poder e seu impacto duradouro. E como poucos, soube fazer isso com maestria. Existiu algum dirigente no futebol brasileiro que acumulou conquistas de forma tão expressivas e constantes ao longo de mais de 25 anos?

Vicente Matheus, líder corintiano lendário, se destacou pela paixão e por conduzir o Corinthians em meio a desafios financeiros, obtendo conquistas expressivas. Eurico Miranda, à frente do Vasco, foi um dirigente polarizador, com sucessos notáveis para o cruz-maltino, mas uma gestão repleta de controvérsias.

No entanto, a trajetória de Petraglia se sobressai pela profunda transformação do Athletico, moldando-o em uma potência sul-americana. Petraglia transcendeu ao modernizar não apenas o desempenho esportivo, mas também a gestão financeira e o relacionamento com a torcida. Petraglia transcende até mesmo o cargo que ocupou, deixando diversas incógnitas para o clube em um futuro sem sua presença física, apenas com a marca de seu legado.